segunda-feira, 30 de março de 2009

Chapetuba - uma (re) visita ao teatro de Vianninha



Apaixonante. Não me vem à cabeça outra palavra para descrever a experiência teatral que vivi no último final de semana. Primeiramente senti-me personagem e estudioso. Eu estava ali, no Teatro de Arena, hoje Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Palco para muitas ações, artísticas, culturais, sociais, políticas. Ao entrar no teatro, senti um arrepio correr pelo corpo. Muita energia corre por ali.

É quase indescritível. Observar aqueles assentos, onde já se sentavam algumas pessoas, aguardando o início do espetáculo. E aquele tempo anterior ao terceiro sinal, quando a magia está prestes a acontecer, mas ainda sou eu mesma. Tempo de observar já o cenário do primeiro ato. Senti-me começar a viajar no tempo. Mas é apenas teatro.

Ao toque da campainha pela terceira vez consecutiva, as luzes da platéia se apagam, e uma transformação dá início. Não estou mais no teatro de Arena, Consolação, São Paulo. Estou na pequena cidade de Chapetuba, na pensão cuidada por Fina, que serve de concentração para o Chapetuba Futebol Clube, que naquele instante deixa de ser a brilhante dramaturgia de Oduvaldo Vianna Filho, e passa a ser realidade diante de meus olhos.

O espetáculo vai envolvendo o expectador de tal maneira em um crescente, mas sem deixar de despertar em nós o sentimento, o pensamento e a crítica. Arte de verdade que mexe com os poros e com o espírito. Arte que transforma.

A peça, por mais que pareça, não fala de futebol. Fala de seres humanos. Sonhos, desejos, amores, paixões, ética, fé, esperança. Mas também fala de nossas fraquezas e nossas mazelas, tão humanas. As personagens que desfilam em nossa frente, criam vida nos corpos desses atores tão preparados e refletem muito mais que jogadores e seus dilemas.

O que parece força, pode ser defesa da fraqueza. O que parece timidez, pode ser receio da rejeição. O que parece ingenuidade, quase beirando a burrice, transforma-se em sabedoria. São esses homens brasileiros, cercados pela miséria e pobreza. Com um misto de desejo de ascensão social e a simples necessidade de sobreviver dignamente, criar uma família e ficar perto dos seus. Os anseios de sucesso e glória. E as inevitáveis frustrações que isso tudo pode causar. Um retrato da sociedade brasileira através do Chapetuba Futebol Clube, seus jogadores, seus dirigentes, nossa imprensa esportiva. Com os bastidores desse campeonato de futebol, temos uma amostra do que nos levar a sermos corruptíveis. A necessidade, o medo, o ego.
Nessa montagem, 50 anos depois da estréia, percebemos um trabalho apurado, limpo, preservando ao máximo o texto original e seu momento histórico, sem perder um só fio da atualidade. Talvez pela naturalidade com que este jovem elenco, em sua maioria, desfila aos nossos olhos e ao mesmo tempo uma maturidade dramática que revela a mão de um diretor. José Renato, um dos fundadores do Arena, que pena não estava lá no sábado para que eu pudesse abraçá-lo e dizer o quanto estava feliz.

Não só recomendo como peço que todos assistam e apreendam um pouco. Há muito tempo não assistia a uma peça que me tocasse tanto, mas mais do que isso, que mostrasse teatro de verdade, feito por atores de verdade, com texto de verdade e direção mais que verdadeira.


Chapetuba Futebol Clube
Texto
: Oduvaldo Vianna Filho
Direção: José Renato

Elenco: Fábio Pinheiro
Pedro Monticelli
Fernando Prata
Flávio Kena
Luiz Fernando Albertoni
Fernanda Sanches
João Ribeiro
Emerson Natividade
Vinicius Meloni
Álvaro Gomes

Teatro de Arena Eugênio Kusnet
Quintas, sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia entrada)

Rua Teodoro Baima, 94, Consolação, São Paulo, SP
(11) 3256-9463

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dia Mundial do Teatro

Salve Dionisio, Deus do Teatro.

Salve Aristóteles, primeiro teórico.

Salve Sófocles, Eurípedes, Aristófanes, Ésquilo.

Salve Sêneca, Plauto e Terêncio.

Salve os Milagres, Mistérios, Farsas e Autos.

Salve William Shakespeare.

Moliere, Corneille e Racine. Lopes de Vega, Tirso de Molina, Guillén de Castro, Calderon de la Barca, Von Kotzebue, René Pixérécourt, Victor Hugo, Musset, Goëthe, Schiller e Gustave Flaubert.

Ibsen, Oscar Wilde, Bernard Shaw, Nicolai Gogol, Leon Tolstoi, Eugene Scribe, Émile Augier, Alexandre Dumas Filho, Anton Tchekhov, Émile Zola, André Antoine, Henry Becque, Máximo Gorki, Georges Feydeau.

E o que não dizer de Satnislavski e o método. Muitos Vivas a Meyerhold, Strindberg, Grotovski, Eugênio Kusnet e tudo que trouxe para o Brasil.

Odes a Garcia Lorca!

Saudações a Pirandelo!

Sigo esperando Beckett, Sartre, Ionesco.

Honra a Bertold Brecht e sua dramaturgia.

E o mundo novo com Eugene O'Neill, Edward Albee, Tennessee Williams, Arthur Miller, Thornton Wilder.

Os orientais: Kabuki e Nô. E também o Butô.

Salve, salve as grandes damas, Viola Spolin, Simone de Beauvoir.

E vem chegando o padre José de Anchieta e toda a criatividade destas terras Brasilis:Domingos Gonçalves de Magalhães, Martins Pena, Gonçalves Dias, Joaquim Noberto, Joaquim Manuel de Macedo, França Júnior, José de Alencar e Machado de Assis.

Viva João Caetano.

E vivas, e vivas e vivas a Nelson Rodrigues, Jorge Andrade, o mestre Ariano Suassuna, Gianfrancesco Guarnieri, Antonio Callado, Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho, grande Vianinha, Augusto Boal, salve, salve, Millôr Fernandes, Chico Buarque, Rui Guerra, Silveira Sampaio, Guilherme de Figueiredo, Glaucio Gil, Abílio Pereira de Almeida, Lauro César Muniz, Pedro Bloch, Consuelo de Castro, Leilah Assumpção, José Vicente, Plínio Marcos, João Bethencourt, Roberto Freire, Antônio Bivar, Mário Prata, Fauzi Arap, Maria Adelaide Amaral, Sérgio Jockyman.

Glórias a cada ópera bufa e a cada teatro de revista.

Cacilda Becker, Luciano Salce, Ruggero Jacobi, Adolfo Celi, Flaminio Bollini Cerri, Gianni Ratto e o polonês Ziembinski.

Tônia Carreiro e Paulo Autran. Fernanda Montenegro!

Alfredo Mesquita, Flávio Rangel e Antunes Filho! Flávio Migliacio, Edy Lima, Flávio Imperio, Ary Toledo, Armando Costa, Paulo Pontes.

José Celso Martinez Corrêa.

Ademar Guerra, Antônio Bivar, Victor Garcia, Fauzi Arap.

Minha mais sincera admiração a Maria Clara Machado, e todo seu mundo infantil.

Os hilários Asdrubal Trouxe o Trombone, Royal Bexiga’s Company, Pessoal do Victor. O Ornitorrinco e Cacá Rosset. Oswaldo Mendes, Márcio Aurélio, Roberto Lage, José Possi Neto, Bia Lessa, Ulisses Cruz, José Renato, Miguel Falabella, Alberto Guzik. Sátyros e Parlapatões. E minha homenagem especial a quem quase tudo me ensinou, meu mestre Renato Saudino.

São tantos nomes que fizeram do teatro sacerdócio e puseram um pouco de arte na vida, um pouco de crítica na língua e um pouco de penso na cabeça, sabendo o papel que cumprimos ou deveríamos cumprir, que sinto-me honrada em citá-los, exprimindo todo meu respeito e admiração. Ainda o medo e receio de ter esquecido alguém, não por descaso, mas por serem muitos e brilhantes.

Viva o artista, que ri, chora, sente e faz sentir.Viva cada um que faz parte dessa magia, dramaturgo, diretor, atores, produtores, cenotécnicos, iluminador, músicos, sonoplastas, figurinistas, costureiras, camareiras, contra-regra, bilheteiro e aqueles sem os quais não haveria espetáculo: o público.

Vá ao teatro e convide um amigo.

quarta-feira, 11 de março de 2009

em teatro não existe certo ou errado

Qual o melhor ator, o tímido ou o descolado?

O intuitivo ou o aplicado?

O que usa o emocional pra chegar no corpo ou o que usa o corpo pra chegar no emocional?

Não há como responder essas e nem mesmo outras perguntas comparativas. Mas de uma coisa estou certa, não existe certo ou errado no teatro. Existe o que funciona e o que não funciona. Existe o que funciona para mim e o que só funciona para outra atriz, com corpo, história e partitura diferentes. E os melhores resultados, quase sempre vêm precedidos de muita transpiração, muita dedicação e muita entrega.

O trabalho do ator pressupõem doação, entrega, sempre com muita responsabilidade. Não cabe aqui conceitos estabelecidos de antemão. Não cabe aqui preocupação com julgamentos, nem meus nem mesmo dos outros, público, críticos, colegas. A pior castração é feita pela auto-punição, pelo auto-julgamento.

Não que com isso não preciso ter consciência e nem senso crítico com meu trabalho. mas o medo exacerbado do ridículo nos torna reféns de nosso próprio medo. E isso gera uma ansiedade acima do normal, que já é característico do tipo de trabalho que desenvolvemos. Então por medo de errar e de extrapolar, eu me calo, me podo, me recolho.

Pecar pela falta pode ser tão grave quanto pecar pelo excesso.

segunda-feira, 9 de março de 2009

alguém já disse...

"Existem empresários que enriquecem com o teatro - dizem. Não fizeram teatro, fizeram negócio. Quem faz teatro, seja empresa, seja governo, estará sempre perdendo dinheiro. Mas asseguro-lhe que quem faz teatro não se importa muito com isso." (Cacilda Becker)

"O teatro, que nada pode para corrigir os costumes, muito pode para mudá-los." (Jean-Jacques Rousseau)

"Não faço teatro para o povo, mas faço teatro em favor do povo. Faço teatro para incomodar os que estão sossegados. Só para isso faço teatro." (Plínio Marcos)

"O teatro é o primeiro soro que o homem inventou para se proteger da doença da angústia." (Jean Barrault)

quinta-feira, 5 de março de 2009

O papel social do ator

Entramos na fase de criação da personagem e seguindo tudo que já foi dito anteriormente, lanço a pergunta desafio: QUAL O PAPEL SOCIAL DO ATOR?
Falamos sobre isso na última aula. Porém, falar não basta.

Ator é aquele que executa uma ação. Agir.
E o que leva a ação?

Vocês poderiam responder: o texto, o diretor, a história;
Antes porém, vem o que motiva você a subir em um palco e atuar.
Quando você pensa em ser artista, você pensa em seu público. Ninguém é artista entre quatro paredes, escrevendo, atuando ou compondo para ninguém. O artista quer um público. E não pode se esquecer que o público quer um artista.
O público se espelha no artista e em sua arte.
Assim, tornamo-nos exemplo a ser seguido.
Por isso é tão importante que tenhamos consciência do papel que representamos na sociedade, fazendo rir, fazendo chorar, criando tendências.
Fazer sentir e fazer pensar.
Então, antes de mais nada, pense antes de agir. Pois mesmo sem querer, você estará interferido de uma forma ou de outra, mesmo que inconscientemente, na sociedade em que vive. O fazer crítico, o fazer artístico, o fazer cultural, o fazer social.
É hora de agir.
Agir com responsabilidade com seu público.
Agir com responsabilidade no papel que desempenha.
No palco e na vida.