quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ilusões do Amanhã

Esse poema foi escrito por um aluno da APAE, chamado, pela sociedade, de excepcional. Excepcional é a sua sensibilidade!!!!!
Ele tem 28 anos, com idade mental de 15.



'Por que eu vivo procurando um motivo de viver,
Se a vida às vezes parece de mim esquecer?
Procuro em todas, mas todas não são você.
Eu quero apenas viver, se não for para mim que seja pra você.
Mas às vezes você parece me ignorar, sem nem ao menos me olhar,
Me machucando pra valer.
Atrás dos meus sonhos eu vou correr.
Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.
Se a vida dá presente pra cada um,o meu, cadê?
Será que esse mundo tem jeito?
Esse mundo cheio de preconceito.
Quando estou só, preso na minha solidão,
Juntando pedaços de mim que caíam ao chão,
Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.
Talvez eu seja um tolo,
Que acredita num sonho.
Na procura de te esquecer,
Eu fiz brotar a flor.
Para carregar junto ao peito,
E crer que esse mundo ainda tem jeito.
E como príncipe sonhador...
Sou um tolo que acredita, ainda, no amor.'

PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ato Sem Palavras I

Ontem à noite, em plena segunda-feira, respondendo ao convite de um amigo para ir ao teatro, fui assistir a uma montagem de uma peça de Samuel Beckett, mas confesso que não sabia de qual texto se tratava. Aceitei de pronto, primeiro por que era na Maria Antônia, ao lado de casa. Aagrada-me muito essa coisa de sair a pé, e ter acesso a bons espetáculos, quase sempre a preços módicos, sem contar com a convivência com pessoas tão ímpares, que tenho a impressão que só andam por essa região da cidade.

Tantos teatros próximos, tantos estudantes, tanta arte que respira nas ruas quase que irresponsavelmente. E ao mesmo tempo me choca tanta miséria deitada na esquina, tanta fome pedindo passagem e tanta ostentação nos edifícios luxuosos e nos bistrôs carérrimos. A dicotomia dessa região entre Higienópolis, Consolação, Centro e Avenida Paulista.

Mas voltando ao teatro, ou sem sair dele, o outro motivo para assistir á peça era a companhia, sempre agradável de Paulo, Alina e Emerson. O convite partiu do Emerson Natividade, ator, amigo e estudioso de Beckett, o que daí já resultaria uma experiência interessante. Paulo, sempre ao meu lado com sua leitura sincera e espontânea, sempre me fazendo ver o que me foge aos olhos clínicos, sempre buscando alguma falha. E a crítica de Alina, algumas vezes ferina, mas não menos verdadeira, tentando colocar Jung ou outro autor por quem esteja apaixonada no momento no cerne da discussão.

Chegando no Tusp, qual não foi minha, nossa, surpresa ao ver uma fila esperando para assistir ao espetáculo. Fila em teatro em plena segunda-feira me deixa feliz. Aguardando para preencher a plateia o público usual do meio, estudantes de artes dramáticas, jovens atores, (pseudo) intelectuais pós-modernos, sempre com uma resposta/pergunta na ponta da língua. E mais um monte de estudantes convidados para o espetáculo, todos de uma escola especial para surdos-mudos. Achei curioso e ao mesmo tempo interessante. Qual seria a percepção deles da obra e da encenação? Decidi observar.

Mas a minha surpresa foi maior ainda quando caiu a ficha de que o espetáculo apresentado naquela noite era Ato Sem Palavras I, de Samuel Beckett, como eu já havia dito. E nada melhor para a simples descrição do que o próprio título. Não pensem que aqui estou simplificando as coisas, longe de mim tal abuso. É que a genialidade de Beckett consiste, entre outras coisas, em sua simplicidade quase literal. Tudo está no texto, mesmo quando o texto é sem palavras.

E o público, seja o intelectual, o popular e até mesmo, e por que não seria assim, o surdo-mudo, tem a possibilidade de ler a peça, de senti-la e de refleti-la. Reflita. Agora seria o momento em que eu passaria todas as minhas impressões sobre a montagem dirigida pela Cristiane Pauli Quito, no estudo realizado junto com seus alunos da EAD – Escola de Artes Dramáticas da ECA-USP. Porém, o que me agrada mesmo em Beckett é que ele é aquilo que nós vemos e compreendemos. Sem verdades nem mentiras. É experienciar.

Num trabalho em que a palavra se vê refletida no corpo, em cada movimento ou interação com movimentos anteriores, numa onda cíclica, como é a própria vida, aqui percebo a utilização de clawn branco, como alguns de nós chamamos este tipo de interpretação. O mímico palhaço, mas de cara limpa. E com este corpo o palco é preenchido de maneira uniforme.

Isto me remete bastante aos meus alunos da Oficina de Teatro, crianças e adolescentes, mas sempre com tanto medo de expressar o que seus corpos, ainda em construção de partitura querem dizer, e dizem. Libertar-se do medo e da vergonha, tão comuns e tão impregnados em tenra idade, mas tão inibidores. Libertar o corpo em favor da palavra, como esse dramaturgo irlandês faz tão bem. Num limiar entre a tragédia, não vou entrar aqui nas definições nem me aprofundar nada, e a comédia, Ato Sem Palavras I assemelha-se a experiência do palhaço, que disfarça com a máscara, face colorida e sorriso largo, sentimentos impossíveis de ofuscar do olhar.


Mostra de Teatro EXPERIMENTOS 2009
Até 27 de abril de 2009
Quarta a sexta às 20h, sábados às 21h, domingo e segunda às 20h
ENTRADA FRANCA
TUSP - Rua Maria Antônia, 294, Consolação - SP