sexta-feira, 23 de abril de 2010

Hoje. 23 de abril de 2010.

Mais um dia de chuva em São Paulo. Hoje dia do Livro. Dia de São Jorge, Guerreiro. Dia da Onu. Aniversário de Shakespeare.

"Ser ou não ser, eis a questõ: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais."

Em Hamlet, tradução de Silvia Ramos.

Boa tarde!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O que é arte?

Todos nós já nos fizemos essa pergunta. Acho que aqui mesmo no Vida Arte eu já pensei sobre este questionamento. Uma pergunta complexa, que cada um responde de acordo com sua área de atuação e sua vivência. Partitura de vida.

Hoje não. Hoje não tive tempo pra pensar na arte. Nada de poesia, de teatro, de filmes. Nada da beleza plástica sobre telas. Hoje o dia era de reconhecer firma em cartório, pipas decorrentes do furto do meu carro. Seguradora, banco, etc. Pra completar a Claro deu tilte.

Percebi que a dispensa estava vazia e na geladeira, restos de pizza, potinhos. Nada muito artístico. Fui ao super mercado. Impressionante o preço das coisas. Isso porque a inflação ficou na minha infância. Ahã! Tá bom. Mas fiz lá a minha compra, o que achei digno. Um rapazinho veio me acompanhar até em casa e pra variar eu vou puxando papo. E do nada, sem eu mesmo agora me lembrar porquê, ele me solta a pérola:

"Arte, ?! Arte é filosofia e história misturado. Põem cultura na mesma panela e mistura tudo. É a arte".

Fiquei meio sem jeito com a fala dele. Minha garganta fechou e meus olhos marejaram. Aí ele veio me contar que estava em São Paulo desde 2005, mesmo ano que eu cheguei aqui. Enfrentava sete horas diárias de condução para entregar compras no centro da metrópole. era de Mombaça, cidadela do sertão cearense, onde não há teatro. Ele nunca foi ao teatro. Mas no seu segundo grau, uma boa professora incentivou a turma a montar uma peça. Pra minha surpresa O Auto da Compadecida, do mestre Suassuna. A mesma peça que estamos estudando neste semestre na EP.

Mesmo sem ter nunca assistido uma peça, esses alunos aceitaram o desafio da professora. Ensaiavam todos os dias, antes, durante e depois das aulas. Ele contou todo orgulhoso que cuidou de todos os detalhes e se apaixonou pelo teatro. Fizera figurino, cenário, trilha sonora. Em suas palavras "pensando em todos os detalhes pra sair tudo perfeito". E foi um sucesso tão grande em Mombaça que até hoje a foto do grupo está no mural da escola. Se pudesse viveria de teatro. Mas teve que vir para o sul, pra fazer a vida, na entrega do super mercado.

Eu não sei o que é arte, mas hoje, olhando aquele menino, senti uma coisa: acho que artista nasce artista. Só que uns tem mais chances e outros mais oportunidade ou determinação. Mas quem é digno de definir o que é arte. Teóricos, tentem. Eu prefiro senti-la.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Foram as águas de março, que venham as de abril


Mais uma vez São Paulo parou, e uma chuva torrencial assolava a cidade. Naquele dia, observando a chuva pela janela do meu 16o. andar, percebi mais um óbvio ululante: a mais pura beleza também pode ser muito cruel.

Foram águas de março, fechando o verão. É, tem dessas coisas.

Em março as chuvas fecham o verão, mas também abrem portas para realização de sonhos, que se criam e formulam em todo período de festas. Final de ano, Natal, Ano Bom, verão e férias, carnaval, e todas as promessas que sempre guardamos para quando o ano começar, a semana começar, o mês, quem sabe precisaríamos aqui de outra vida? Quem sabe se teremos tempo?

Março vem avisar pra gente andar rápido, não correr, pois quando corremos deixamos de olhar pros lados. Seguir em frente, sonhando e realizando. Trabalha e confia, diz a bandeira do meu Estado. Confia. Mas não trabalha não pra ver o que te acontece.

Este março me trouxe o Festival Ibero-americano de Teatro, no Memorial da América Latina. Sei que estou devendo um post aqui sobre a mostra e as palestras. Acredite, eu escrevi, mas num momento de leveza apaguei sem querer. Coisas que as almas livres fazem e sofrem depois por tê-lo feito.

Mas da semana, vale registrar que o ciclo de debates fez nascer uma chama de urgência dentro de mim. O que enfrentamos em questão de formação, cultura e políticas de fomento não é um problema localizado no Brasil, é mundial. É a mais pura crise da globalização pós-moderna. Nunca tivemos tanto acesso a informação e tão pouco conhecimento. É preciso construir conhecimento. Isso me fascina em ensinar-aprender. É um binômio que não se conjuga sozinho.

Um beijo para Chico Assis, que ensinou que posso fazer parte de uma galáxia, e não há mal nenhum nisso. Chico é mestre, e tem a sinceridade que só os anos permitem.

Vi também um Bobo Plin, tão atual que parecia Plínio Marcos vivo. E acho que o artista tem esse poder, continua vivo. Senti-me também bobo e palhaço, artista dividido entre o aplauso e os bolsos.

Mais que tudo, aprendi que não existe caminho certo, nem errado. Existe aquele que vai funcionar pra mim.