terça-feira, 28 de outubro de 2014
terça-feira, 1 de julho de 2014
desafio 365
Hoje comecei meu desafio de leitura. Durante os próximos 365 dias me comprometi a ler um texto dramatúrgico por dia. A começar por hoje.
Ontem fiquei um tempo pensando em qual texto começaria o desafio. E sempre me vinha na cabeça: Édipo. Decidi primeiro identificar tudo que tenho em casa. surpreendeu-me querer reler tanta coisa, e mais ainda quanta coisa eu ainda não li. Me senti até meio mal.
No meio da papelada achei uma relação de títulos, que ocupavam três folhas. No alto da primeira estava escrito assim:
"RELAÇÃO DE TEXTOS - SUGESTÃO DE LEITURA E CONHECIMENTO MÍNIMO INDISPENSÁVEIS PARA ALUNOS DE DRAMATURGIA E DIREÇÃO."
Para minha surpresa, no fina da lista tinha um aviso:
"AVISO: esta relação é, evidentemente, incompleta. É uma sugestão do diretor José Renato e deve ser incrementada pelo interesse de cada um."
Acho que tem mais gente me ajudando no desafio. Ô, Zé. Pode ter certeza que sua lista será incrementada nestes 365 dias. Então, resolvi começar com o primeiro título relacionado pelo mestre José Renato, que nas poucas e valorosas vezes que nos encontramos, tanto ensinou. É a você que dedico este primeiro dia de desafio 365.
Édipo Rei
Sófocles
Acompanhe o desafio 365 em
https://www.facebook.com/desafio365vidaarte
E leia citações dos livros no @vanessafrisso #desafio365
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Numa certa Rua São João
Sou suburbano sim.
Aprendi poesia concreta com as passistas do morro.
Exercitando a alma, ladeira acima, depois da lage, quando o corte cruel do cerol faz a cor da seda voar solta no azul.
Fui surpreendido com a goiaba na mão.
Chorava o passo duro e fugia para ouvir canções no abacateiro.
Uma escadaria, um muro, uma queda. Foi assim que aprendi a caminhar. Sorrindo do salto quebrado que tirava todo glamour do vestido.
Sou da rua e lá já fui palhaço e dancei com uma rosa na boca.
Trago na boca sempre um palavrão, esperando só a primeira ordem para ser cuspido.
Falo alto, rio alto. Chorava só escondido.
Aprendi ainda pequeno os prazeres de um bom trago. Foi assim que beijei e também assim que fumei.
Quebra-queixo, mariola, picolé de milho verde. E aquela batata fatiada com casca e tudo. Comer panqueca.
Ali eu vi o mar nos olhos, as estrelas no chão e o cinza no céu, quando um véu de fumaça escureceu a frente da casa.
Aprendi a ser gente que briga com gente, que brinca com gente, que canta e dança com gente, que morre com gente, que ama...
Aprendi poesia concreta com as passistas do morro.
Exercitando a alma, ladeira acima, depois da lage, quando o corte cruel do cerol faz a cor da seda voar solta no azul.
Fui surpreendido com a goiaba na mão.
Chorava o passo duro e fugia para ouvir canções no abacateiro.
Uma escadaria, um muro, uma queda. Foi assim que aprendi a caminhar. Sorrindo do salto quebrado que tirava todo glamour do vestido.
Sou da rua e lá já fui palhaço e dancei com uma rosa na boca.
Trago na boca sempre um palavrão, esperando só a primeira ordem para ser cuspido.
Falo alto, rio alto. Chorava só escondido.
Aprendi ainda pequeno os prazeres de um bom trago. Foi assim que beijei e também assim que fumei.
Quebra-queixo, mariola, picolé de milho verde. E aquela batata fatiada com casca e tudo. Comer panqueca.
Ali eu vi o mar nos olhos, as estrelas no chão e o cinza no céu, quando um véu de fumaça escureceu a frente da casa.
Aprendi a ser gente que briga com gente, que brinca com gente, que canta e dança com gente, que morre com gente, que ama...
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Clichê Literário
Cheguei eufórica de uma caminhada de nove horas por uma
trilha, de onde você praticamente não vê sinal humano, cercada de água e com
cachoeiras, piscinas naturais, hidromassagem, tudo talhado nas lajes marginais.
Ainda por cima, ao final dessa jornada, fomos premiados com um mergulho na
represa de Itupararanga. Cheguei em casa, atualizando com a internet, a
notícia, que não era uma, Eduardo Coutinho, morre aos 80, esfaqueado, talvez
pelo filho esquizofrênico, Philip Saymour Hoffman, encontrado morto aos 46, de
overdose de heroína. Fiquei meio mal. Não gosto de mortes. Principalmente
mortes de pessoas que eu admire, tenham alguma ligação com minha vida ou não.
Isso confundiu minha cabeça.
Apesar da noite quase em claro, e da surra que eu parecia
que levara, estava inquieta. Acendi um incenso e fiquei olhando minha estante
de livros. No mesmo momento minha mente começou a enquadrá-las, mas pensei que
livros não pedem imagens, e sim palavras.
Sou uma boa leitora, pelo menos me considero assim. Não, eu
não leio até bula de remédio, mas rótulo de xampu sim, devo confessar. Adoro
ler biografias, romances, clássicos, bobagens comerciais, livros de teatro, e
variadas áreas do conhecimento que me façam entender quem eu sou e quais são as
coisas que tanto me inquietam. Todo resto é bobagem. Não me levem a mal, estou
falando de mim. Mas se alguma carapuça fez saci...
Essa busca por mim mesma me faz mergulhar na arte, tentar
entendê-la, sentir a estética, mais que vê-la. Entenda aqui arte no sentido
mais genérico do que conceitual. É buscar o que me encanta. Por isso escrevo
histórias, na esperança antiga de queimar o negativo. Por isso enceno papéis,
disfarçando diferenças, acentuando semelhanças.
Assim é minha relação com os livros, uma busca de
entendimento, mesmo que nem tanto racional. Emocional talvez. Estou sempre
lendo alguma coisa. Por vezes chego a ler até quatro livros de uma só vez. Isso
explica o porquê de ler alguns em dois dias e outros em um ano. Vão
complementando-se e opondo-se, de acordo com minhas necessidades. E existem
aqueles que param no caminho.
E foram esses que me chamaram a atenção desta feita. Por que
eles ficaram no caminho, ou eu que fiquei. Algumas vezes os reencontramos
tempos depois. Por outras vezes juramos que ainda terminamos. Outros
simplesmente deixamos em silêncio. Será que existe alguma coisa em comum entre
eles, ou será que de alguma forma eles me expunham de maneira a me incomodar?
Resolvi rememorar alguns. Vai que faz sentido.
Talvez vocês pensem, “Ah! Ela agora entrou na modinha de
fazer listas”, “Os 294 livros que não terminei de ler”. Vai ver que foi isso
mesmo. A mim mais parece que é também só uma procura, daquelas em busca de algo
em si.
Quando eu tinha uns dez anos de idade, comecei a ler
Macunaíma, de Mário de Andrade. Confesso que achei muito difícil entender
algumas coisas. Acho que na época era mais fácil eu entender de mitologia
grega, que eu começara a conhecer. Talvez algum tabu da criação. Nos encontramos
depois, bem depois, quatorze anos depois, foi paixão fulminante, dessas que se
tem aos vinte e poucos anos.
O primeiro livro de Gabriel Garcia Marques que comecei a ler
foi O Outono do Patriarca. Períodos muito longos cansavam-me, parágrafos
inteiros sem pontuação, num fôlego só. Ali na frente eu já não sabia onde
estava. E cada vez que pegava o livro pra ler, quase que começava do zero
novamente. Dei de ombros. Não me dei muito bem com Garcia Marques. Até que
Memórias de Minhas Putas Tristes me caiu às mãos. Engoli o livro. E fui
correndo conseguir um exemplar de Cem Anos de Solidão. Sim, eu e Gabriel
fizemos as pazes, e tornamo-nos melhores amigos. E O Outono do Patriarca? Acho
que emprestei pra alguém, não está aqui na estante, logo agora que eu queria
lê-lo.
Durante um curso de interpretação, minha turma iria fazer
uma montagem de O Homem do Princípio ao Fim, do Millôr Fernandes, a mim coube o monólogo de Molly
Bloom, do já lendário “não lido” Ulisses de James Joyce. Eu não fazia ideia de
quem era Molly Bloom. Achei que precisava ler o livro. Paulinho achou um
exemplar incrível, capa dura, em um sebo na Augusta. Presentão de Aniversário.
Aí fiquei sabendo que muita gente não consegue terminar de ler esse livro. Mas
não acho que parei só para fazer parte dessa estatística.
Aventuras de Alice no País das Maravilhas, me deu inspiração
para o título de uma peça em um ato que escrevi, e nem cheguei em Através do
Espelho. Lewis Carroll me desculpe, não tem nada com aversão às suas supostas
taras. Peças de tetro gosto de ler sem interrupções, pa-bum, de uma vez! Mas
emperrei em O Diabo e o Bom Deus, do Sartre. Em Fausto, de Goethe. Até hoje
reabro o meu bom e velho Tudo que é Sólido Desmancha no Ar. Mas vou continuar
tentando, Senhor Berman, estou quase lá, chegando no fim, há quase vinte anos.
Agora aqui estou eu e Umberto Eco. Umberto Eco e eu. Pela
terceira vez. O Nome da Rosa e as referências que não tive.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
De cara com a 101
Eu não vi a cara da morte. Mas pude senti-la. Ela estava
ali, esperando, espreitando, acompanhando a BR101. A qualquer momento pode
acontecer, vai acontecer. Então ela fica alerta, sentindo o cheiro e observando
as cores.
Ontem estava escuro. Só rastros de luzes brancas e vermelhas
e um rastro de verde que vez por outra se ilumina. Os olhos vidrados nas
páginas do livro. Os sentidos assombrados e imersos nas letras impressas.
Uma luz branca vindo em nossa direção, um vulto de carro
passando a nossa direita, o solavanco, o caminhão na outra pista vindo de
frente, o segundo solavanco, o livro que voa, o acostamento, e horas em espera.
Nenhum ferido, só um susto dessa vez, minha senhora, pode
ir. E ela, que nada, melhor ficar de olho nessa via. Paramos, esperamos. O
motorista tremia que nem vara verde, mas seu reflexo foi perfeito. Os moleques,
de bermuda, regata e chinelos, possivelmente achando tudo muito divertido,
ultrapassando um caminhão nas curvas de Iconha. Uns sortudos, é o que eles são,
de terem ido só parar no meio do mato.
Nada demais, esperar por duas horas pela polícia, mais duas
pela perícia, e seguir viagem até São Paulo. Cinco horas além do previsto.
Cinco horas a mais na tortura do medo de continuar no mesmo veículo. Foi uma
raspada de lado, feriu a dianteira direita. Eu me pergunto: até quando?
A 101 continua ali, com suas curvas, seu asfalto de péssima
qualidade, sua pista estreita e certos condutores assassinos irresponsáveis.
Não, não é culpa deles, a responsabilidade é só do governo... O que a grande
maioria de nós esquece é que todo ato feito em comunidade é um ato político,
não diz respeito só à nossa idiossincrasia.
E sabe o que a dona Morte nos diria se pudesse?
- Os seres humanos me assombram.
O Grito, de Edvard Munch, não me lembra a cara da Morte,
mas a cara da Solidão, aquela cujo egoismo afastou da vida.
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