sábado, 30 de julho de 2011

Frescobol

Aquilo que se dá nem sempre é condizente com aquilo que se espera, nem com o que se recebe.

Costumo fazer uma analogia com os meus alunos, comparando a arte do fazer teatral com dois esportes muito semelhantes, porém muito distintos, em seus objetivos e sua dinâmica. São eles o frescobol e o tênis. Ambos são atividades esportivas que utilizam raquetes e bolinhas.

No tênis, simplificando bastante as regras, os participantes são adversários, disputando a vitória ponto a ponto, tentando fazer de cada raquetada uma jogada impossível de ser defendida, colocar a bola no chão, na quadra do adversário ou fazê-lo jogar a bola fora. Oponentes numa disputa que pode ser bem demorada.

Já no frescobol os jogadores são parceiros, companheiros, e o grande objetivo do jogo é evitar que a bola caia no chão. Os jogadores tentam passar a bolinha de forma redonda um para o outro e joga melhor a dupla que não deixa a bola cair. Aqui não existe competição e sim parceria. Os dois saem vitoriosos após longo tempo de jogo.

O teatro é uma arte de equipe onde todas as peças devem se encaixar perfeitamente. Se eu saco a bola muito forte, jogo muito alto, ou pelo contrário, muito baixa, coloco meus companheiros em dificuldade. O que torna mais difícil ainda o meu próprio trabalho na sequência.

É muito comum vermos bons atores em interpretação mediana, quando contracenando com atores que não entendem o jogo. O mesmo podemos dizer de qualquer etapa do fazer teatral. Quando estamos falando de um trabalho de grupo, o que acontece no teatro mesmo quando se faz um monólogo, o bem comum é muito mais importante do que o desempenho individual.

Claro que há espaço para quem é brilhante e empenhado se destacar. Porém o meu destaque não pode e não deve significar a anulação de meus companheiros.

Diferentemente do tênis, teatro é frescobol. Ou todos ganham, ou todos perdem. Entender isso é ponto crucial das artes cênicas.