sábado, 10 de julho de 2010

Aplausos

É o que todo artista quer. Sim, sem hipocrisia. Quem disser o contrário está mentindo a si mesmo. Quem não se importa com a opinião do público, ou não é artista, ou não entendeu ainda o que está fazendo aqui.

Ninguém escreve o mais incrível romance pensando em deixá-lo guardado na gaveta. O escritor quer ser lido - lógico que alguns textos não saem da gaveta, por medo, insegurança, ou sei lá o motivo. Mas quando se escreve uma história é para contá-la ao mundo.

Ninguém roda uma película - espera, na era digital ainda é correta esta expressão? - para projetá-la somente na parede de sua casa. Lógico que isso acontece com algumas, mas qual seria o objetivo do filme a não ser ser visto?

Ninguém pinta uma tela para guardá-la embaixo do colchão. A tinta cria vida própria e por si só comunica vida e emoção. Assim como a música que não saiu da partitura nunca foi música.

A arte é comunicação com o público, sem aqui fazer um julgamento de boa ou má arte. Que os intelectualóides e críticos não confundam o aplauso com a aprovação. O aplauso vem de dentro, mesmo quando não entendemos o que estamos vendo.

Foi assim comigo a primeira vez que ouvi uma ópera. Adolescente, na Escola de Música do Espírito Santo. Sinceramente, não entendi uma palavra do que cantavam, mas aquele canto me tocou de tal forma, por dentro, de me gelar os ossos e escorrerem abundantes lágrimas de meus olhinhos sedentos por beleza em comunicação. Naquele dia a arte se comunicou comigo.

É isso que busco enquanto artista. Não o aplauso educado de uma plateia burocrática: a peça acabou, agora nos levantamos e aplaudimos. Busco o aplauso interior da comunicação. Busco a diferença no outro. O aplauso silencioso que te faz ir pra casa e lembrar-se disso anos depois.

Esse é o aplauso que busco e que me faz fazer teatro.