quinta-feira, 5 de junho de 2014

Numa certa Rua São João

Sou suburbano sim.
Aprendi poesia concreta com as passistas do morro.
Exercitando a alma, ladeira acima, depois da lage, quando o corte cruel do cerol faz a cor da seda voar solta no azul.
Fui surpreendido com a goiaba na mão.
Chorava o passo duro e fugia para ouvir canções no abacateiro.
Uma escadaria, um muro, uma queda. Foi assim que aprendi a caminhar. Sorrindo do salto quebrado que tirava todo glamour do vestido.
Sou da rua e lá já fui palhaço e dancei com uma rosa na boca.
Trago na boca sempre um palavrão, esperando só a primeira ordem para ser cuspido.
Falo alto, rio alto. Chorava só escondido.
Aprendi ainda pequeno os prazeres de um bom trago. Foi assim que beijei e também assim que fumei.
Quebra-queixo, mariola, picolé de milho verde. E aquela batata fatiada com casca e tudo. Comer panqueca.
Ali eu vi o mar nos olhos, as estrelas no chão e o cinza no céu, quando um véu de fumaça escureceu a frente da casa.
Aprendi a ser gente que briga com gente, que brinca com gente, que canta e dança com gente, que morre com gente, que ama...

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